10.5.10

a falência

dear:

eu assediei a tua casa para que soubesse da existência da minha. não era para ouvir o que eu não queria: o colocar da mesa, o bater de pratos e talheres para uma refeição demorada. com um pouco de dor eu te recebo. com um pouco de dor eu te saúdo. 'não, mas não são meus'. claramente cá estão estes segredos: eram por nós, lembra? era para nós que eu escrevia as cartas e as enviava sem nome ou remetente pelos correios do mundo. às vezes enviava só garrafas, sem cartas, só com o desespero do vazio e o silêncio de uma resposta que nunca se sabe. 'voltará para o litoral ou aparecerá no golfo, no mar mediterrâneo, no velho mar vermelho?'. era o que me perguntava com uma inocência tal que me rasgava a doçura. não sei, meu bem, não sei por quanto tempo ainda hei de carregar a mesma incerteza. então onde é que vou parar? no chão de giz, no fim do túnel, na americana montanha-russa? eram para assediar a tua casa os envelopes brancos. os azuis eram a parte homeopática de mim que te seduzia com palavras bobas, toscas, travadas. o que vem depois que, sabendo de minha existência, ignora minha casa? a distração tua no almoço, talvez a dois, possivelmente com outro rosto à mesa. o que vai ser de mim se a sedução não é empresa, nem é concreta? [suspiros por trás da hipoteca]

2 comentários:

Anônimo disse...

ah.. quantas cartas rodaram os correios do mundo e nunca mais chegaram em lugar algum...

Anônimo disse...

às vezes penso que a carta de boas-vindas que eu ansiosamente esperava tivesse sido tragada pelo mar. mas e se a garrafa vinha vazia? agora entendo o fracasso da espera: a carta nunca chegou a ser escrita.

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