dear:
(sinto dor no fundo dos meus olhos). nós nos cruzamos na rua. tu não me reconheces. eu também não te reconheço. e atravessamos: os muros, os túneis, as ruas, o resto da cidade. e atravessamos: sem que o destino tenha de fato nos atravessado. atravessamos o deserto de almas, meu bem. sem que sejamos eu e tu, sem que tenhamos conseguido perceber o nós. e de fato: a cegueira é farta e um fardo da metrópole cotidiana. então para sempre estaremos perdidos porque outra vez não haverá - nem cruzamento, nem segunda via, nem linha férrea, logradouro, ancoradouro, esquina, nem nada que nos coloque outra vez juntos, frente a frente. perdemos a chance: eis a verdadeira ironia. nos perdemos no momento em que nos encontramos. e tudo o que sei é que alguma coisa lá fora se perdeu, pois os meus olhos doem. o coração está inchado. e não para de subir pela boca do meu estômago. o coração está inchado e não pára de subir pelo céu da boca. o coração está inchado. e não para de descer mais para baixo, pela sarjeta suja, onde mora a solidão.
2 comentários:
Só há não-saídas na metrópole tentacular / O status bípede do homem é inócuo...
Abraços !
http://cartassideradas.blogspot.com/
Solidão, por vezes, mais que necessária!
bjs
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