2.12.10

one million


honey:

o perfume da carne não pode continuar o mesmo, motivo pelo qual dei ao esquecimento o que havia de ti em mim, o que permanecia na pele quando me enlaçava o corpo.  desfiz os laços do amor, dilui nas mesmas águas a memória. nada mais justo é, pois, distrair-me de ti, fazer impossível o retorno da recordação. eu, amor, permaneço apesar de tudo. intento olvidarte. mas não basta permanecer, preciso, também, dar continuidade aos dias - claros e noturnos. já me esqueci do teu rosto, dos teus olhos, da tua pele, do teu cheiro. quase nunca penso em ti. de um milhão de pensamentos, quem sabe um seja o teu. e foi assim mesmo: tu quem quiseste desaparecer. e bem quis assim na tua incerteza ainda que, confessada em palavras, ausente de medo. eu havia dito que poderia voltar da tua jornada quando soubesses de fato o que terias para me dar. a ausência se prolongou tanto que duvido que possas me dar alguma coisa. e mais: duvido que tenha o desejo-de. e me é tão dolorido esse pensamento porque só consigo rememorar a glória dos primeiros dias e o fracasso dos últimos. perguntei-me tanto o que mudou no entremeio, o que não cativou mais o coração. levantei tantas hipóteses que apenas pude concluir por minha segurança: não te quero mais. nem hoje, nem ontem. os jasmins, os gerânios: morreram. ulisses naufragou. penélope desistiu da espera, como eu desisto pelo que não volta. por esse motivo, amor, não te respondo mais, não te procuro mais, não te desejo mais, e entrego teu nome à ignorância completa. jacintos, girassóis: morreram. aguardo apenas o dia em que possa me desfazer das coisas tuas e receber de volta as minhas que estão em teu poder. o único poder que ainda te pertence: o das coisas. pois apenas as coisas importaram a ti nos últimos meses. e eu, menos que coisa, menos que objeto, menos que nada nos teus julgamentos de importância. para que persistir então? one million. estou perfumado e pronto para outra história.

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