10.12.10

"cuando alguien se va, quien se queda sufre más"


dear:

não era para ser assim, mas assim será. não apenas nestes tempos, nessas estações, naquelas rodovias. é o de-sempre. eu apostei as últimas fichas e as perdi outra vez. acabou. receio não ter mais o que apostar. perdi as forças, estou falido. e pior de tudo: perdi a crença. já coloquei os pés e as mãos na hipoteca. dentro em pouco, coração também. até os 30 anos, o banco deve tomar tudo. então eu serei apenas mais um. lamento dizer que o amor, dentro em pouco, desaparecerá do meu corpo. então receio quanto ao que vai restar de mim, quanto ao que vai ser da minha vida.

sabe, o que fazemos pelas pessoas não tem volta, o que deixamos de fazer também não. eu tentei de tudo, fui até o fim com isso. mas não consegui mudar o curso do teu mundo. eu sei que tenho meus defeitos - que posso ser chato, impulsivo, cansativo. mas não creio que eu possa ser culpado por ter gostado tanto de ti. quem sabe, tenha errado em magoar-me pelas coisas que não fez. algumas coisas compreendi; outras, é impossível compreender, um punhado delas, não quero nem falar sobre. eu só consigo me perguntar o que eu errei. e como eu havia dito, tentei evitar ao máximo que se repetisse o que havia vivido da minha primeira vez. mas fracassei, então é o fim.

eu vejo pessoas se abraçando na ruas, os casais se beijando apaixonadamente. sabe o que sinto? nem sei explicar o que sinto. não encontro as palavras para definir o que sinto. não tenho inveja, nem raiva. não quero que elas não tenham o que tem. quero entender porque conseguem ter. alguma coisa dentro de mim me angustia, incomoda. eu só consigo perguntar: por que eu não tenho dessa felicidade? não é a primeira vez que isso acontece, não compreendo esta incorrespondência, não sei porque insisto em escrever cartas que não chegam a lugar nenhum. eu só queria que elas tocassem algo e pudessem voltar para mim. era um lugar para voltar que eu pedia. não vi tu voltares. mas acho que agora sou eu que não volto mais. nem para ti, nem para ninguém. a correspondência está completa, segue extraviada, lacrada, nunca vista.

nesta tua ausência cheguei a pensar em outra pessoa. ela já tinha alguém, um rosto colado ao dela. e foi monstruoso imaginar que poderia eu destruir algo bonito, algo que pertence há muito tempo às carícias da carne. terrível foi pensar que eu poderia me consumir outra vez por algo que não fosse tu, pois tu já me consumias, queimando-me a carne. como seria, então, me incendiar por algo se meu interior seguia em franca combustão? eu apenas desejava um bálsamo para tua falta de apreço e carinho. o incêdio seria uma falsa façanha, um engodo, uma sabotagem. queria apenas consolar o coração da tua estupidez. mas que digo? nem nunca seria tomado de febre por mais ninguém, seria impossível. eu disse a ti: tu és original, singular, qualquer outra coisa que não fosse tu seria parte de uma série. de múltiplos amores sem rosto. o que houve de errado então? eu não devo ter sido único para teus olhos. e é exatamente com isto que preciso me conformar. pois: guardo nossa história no silêncio, não sem perturbação, amor. não com coragem e alegria. muito pelo contrário. 

tenho chorado à noite, atravessado as madrugada no navio da insônia. tento desgastar os velames, encontrar os recifes. afundar. mas por quê? sinto que algo de mim morreu depois que morremos sem fim. não era para ser assim, não era. dói-me muito aceitar que foi assim que quis. este é o teu desejo-de: desarmar o amor que sinto por ti. não se preocupe mais: eu já fiz as malas. e é tudo. tu eras tudo pra mim.

Nenhum comentário:

Pesquisar o malote