14.1.11

sangrador



honey:

se eu pudesse te dar o mundo, haveria a chance, a mínima chance, de encher de glórias, perfumes, doçuras esta casa? faço promessas a ti de tudo que possa estar a meu alcance neste momento, mas minha pobreza e impotência me impedem de te dar o todo. já entreguei a ti as partes do meu corpo, as chaves dos meus cômodos, os incômodos que tenho com tua ausência. também já confessei o quanto o silêncio me dói, não o faça acontecer de novo, please. é a única fraqueza minha, a única tristeza que não posso suportar e que confesso-te de joelhos (bem certo que em posse deste segredo terá a arma mais terrível para machucar-me se for preciso). desde a primeira vez que eu te vi, eu soube, eu percebi: há um segredo nos teus olhos, amor, algo ancestral, primitivo, anterior a nós e a este tempo, nos teus olhos. talvez você não saiba, nem eu, mas há uma memória que se arrasta vagarosamente no coração. há um reconhecimento da parte mais íntima de mim que já viveu em ti, de algo de ti que já viveu em mim. não por acaso nos encontramos no primeiro dia, na madrugada do ano-novo. não por acaso te perdi temporariamente para outro apenas para saber que não poderia te perder de novo e de modo irrecuperável. eu insisti em nós porque já havia notado em teus olhos que nos conhecíamos. não daqui, nem dali, mas do tempo - naquele passado no qual duas almas se enovelam e se enroscam ao longo das vidas. seria preciso acreditar em mim, seria preciso experimentar de mãos dadas a provação que viria a seguir, a da distância que já vivemos. e, mais do que tudo, não poderia deixar um só dia de alimentar tua boca com a serenidade de que tu precisas para saciar a fome. esta fome, amor, que começou depois que deixei de dizer 'eu te quero' para insistir no sangrador das águas: 'eu te amo'.

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