18.2.11

os lençóis oceânicos


sonhei contigo esta noite. seu rosto emergia da cama, dos lençóis, como se voltasse de um mergulho. como se retornasse do mar, com algas, pérolas, coroas de sal e ostra. emergia dos meus lençóis oceânicos como espuma ou divindade. seus braços se enroscavam nos meus pés e pernas ao modo de um cordão, um velame, o que me fazia sentir o vento singrar o barco nas minhas costas. logo depois, seu corpo, morno e úmido de água, desabava sobre a proa do meu peito, sobre minha pele de poucos pelos e gotículas eriçadas de suor. era apenas a preparação para outro desague: da saliva de sua boca em chamas pelo meu pescoço, lóbulos, queixo, lábios. eram as águas primeiras, anteriores à explosão do gozo, primitivas, preliminares, intempestivas de tanto desejo. pois estava inebriado em um barco ébrio, agarrava-me ao estrado da cama, escapando do vapor, da névoa e da neblina de um sonho só. de um sonho que, aos poucos, desaparecia, afundava no horizonte do meu corpo. era uma ficção onírica que lembrava em mim o gosto do beijo que você me deu. é, sim, o sonho quem acorda o coração adormecido, quem enche de perigo o desejo que não para de nos roçar.

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