honey:
tu não me disseste nada, fui eu quem tive que perguntar. acima das nuvens agora, sinto uma saudade imensa e também muito medo. 850 km/hora, 35 mil pés. Daqui de cima qualquer erro pode ser um desastre, mas evito pensar nisso, pois já é muito bom estar em altitude de cruzeiro, sem turbulências. eu que perguntei, com os olhos já cheios de lágrima, mesmo sem nem ter ouvido nada, você me conhece, sou muito sentimental, mas fui eu quem perguntou. penso olhando pela janela: a altitude nos separa; a latitude nos separa; a longitude nos separa; que mais nos separará para fazer disto uma ladainha da separação? eu perguntei o que tu viste em mim que despertaste em ti a vontade de ter-me. não consigo ver nada lá embaixo, apenas a espessura branca abaixo de nós, o azul de cima, de frente, dos lados. sonhei com a arquitetura dos jardins, com um cachorro galgo saindo da escuridão, com a lembrança hesitante de teus afagos. como foi difícil, meu amor, aproximar-me do teu rosto, subir com os dedos ligeiros por trás das orelhas e afundar toda a mão no meio dos teus cabelos, só para te encher de carícias circulares. como foi difícil saber que desgosta desses afagos e não te interessa em fazê-los mesmo em mim, que gosto tanto de tê-los. perguntei, sim, mas se ouvi algo da tua boca não foi com o coração. também pudera: questionamento assim não se faz não: essa resposta chega de mansinho, na beira da praia, tocando de espuma os pés queimados, sem que ninguém tenha nem pensado na pergunta. as palavras lavram o vento, as promessas lavam o de dentro. estou tão descomposto de tormento que aposto ser de dor o vermelho-céu deste momento. sinto uma saudade imensa de acordar aos saltos, sobressaltado, apenas para ver teu rosto, beijá-lo com gosto e voltar a dormir em silêncio. eu que digo tantas coisas já não sei mais que dizer. mas algo é certo e alto: viajo sem querer, sem vontade; parti para te ver, para me entreter tendo-te; e volto, volto com muita saudade de estar com você.
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