18.6.11

o turista


dear:

às vezes é solitário. só às vezes. é apenas quando me sento na sacada, sem qualquer outro movimento pela casa, sem quase nenhum som da rua. vez em quando é assim. as madrugadas nunca estão a salvo de uma travessia. como um turista, além do limite de bagagens, visito lugares próximos ou distantes. próximos e distantes. tenho as fotografias das viagens comigo, a lembrança das estadias, dos hotéis, dos passeios de barco e de trem. tem sorrisos que não se podem esquecer. há despedidas que não querem ser esquecidas. e outras coisas, também, que persistem na indefinição, voltando à força e de súbito. completamente irresponsáveis, sem consideração por mim. talvez seja porque certos abraços fundem distâncias, reinos soberanos de nunca mais se ver. e pra quê, pergunto eu. não sei te responder. mas é verdade o que eu sinto. às vezes tenho medo de dormir sozinho, e também de esperar por ti que nunca vem. e se viesse, o que seria de nós? o que seriam daquelas noites, daqueles filmes, daquelas tardes chuvosas em casa? não seriam lembrança e, sim, um tempo contínuo. não quero mais isso, ou melhor, aquilo. prefiro o turismo perpétuo do que aqueles dias depois das noites, aqueles desentendimentos depois dos filmes, aquele silêncio engasgado durante as tardes. dear, só às vezes é solitário, nem sempre, e só escrevo hoje porque eu me sentei na sacada.

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