16.7.11

aquela idade de ouro


dear:

não queríamos esquecer e não compreendíamos a razão de qualquer esquecimento. os dias de ouro haviam chegado. muitas palavras doces roçadas no ouvido, ligações intermináveis, um querer mais próximo e com ganas de violar a física. a febre de uma boca sobre a outra provocava uma infusão de gosto na saliva, e as línguas curtiam uma água saborosa. de tanta vontade, o tempo e o espaço eram montados em um puzzle-fotografia de nós dois. era o que sempre nos deixava felizes: saber que sempre poderíamos, não importava o que fosse, era possível. no entanto: as minas pararam de jorrar. de início pensamos que fosse apenas um mal-entendido, mas eles começaram a chegar com tamanha frequência que já não nos dávamos conta de sua origem. a palavra-de-ouvido foi substituída pelas brigas de dedo em riste, os telefonemas tornaram-se pedidos de devolução ou de nunca-mais. o bem-querer virou um estado insone, de cada qual em seu quarto vazio. depois da quebra, inventávamos tempo e espaço para não nos encontrarmos nunca e, se acontecia, fingíamos não tomar conhecimento de nada. era sempre uma saída à esquerda ou à direita, onde fugir fosse mais rápido. os objetos não reclamados foram para o lixo; as fotografias, rasgadas; a escova de dentes, por raiva, serviu para limpeza de sapatos. e pensar que antes de atirarmos tudo no porão, de condenar aqueles momentos à idade média, tivemos a impressão de que tudo seria delícia vindoura. e agora, incorrespondentes, a única certeza que temos é a de que esquecer é a única compreensão possível. a única atitude da qual não iremos nos furtar nem nunca.

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