25.1.12

o país das sombras

dear:

sim. é sempre no país das sombras que eu posso te encontrar. tu, tua cara amassada e cansada de sol, teu beijo dormido e envenenado, tuas mãos cobrindo as minhas  mais secretas  palavras, teus  abraços intrusos de quando o lençol cai da cama e toca o chão. todo-lugar é onde eu te encontro, esse continente insular do coração. de nada adianta sair pelas ruas e procurar refresco em novos rostos - é sempre o teu que enxergo, de longe, a contragosto, em meio à ressaca brava de anônimos. é tu, olho d'água, turbilhão. ficar em casa, fechado a quatro cantos, também não ajuda: quando não são teus passos, é tua voz que me segue pelo espaço das peças. a casa é toda tua, como se ainda cá morasse. ou morresse. pois é como espírito que te recebo nas noites, acordando-me aos sobressaltos e aos espantos mais espalmados. não queria eu frequentar-te tantas vezes. o passaporte, infelizmente, tem visto para até mais nunca. talvez porque os amores inacabados sejam para nós a sombra da sobra, a parte clarinha da escuridão.

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