20.2.12

hay amores | bang bang


dear:

sonhei contigo esta manhã – era um sonho matutino sim, pois acordei com teu rosto esvanecendo no ar. este é um relato sem romantismo. ou é apenas a noite que nos torna mais amáveis? ou sou eu quem viajo no tempo e invento o cotidiano sem graça, das manhãs acordadas ao teu lado, ainda com hálito azedo e olhos remelentos? estou cansado porque já viajei muito. vim de muito longe. voltei. não sei quantas malas já fechei para estar contigo e também para nunca mais estar. eu mal cruzei as pontes; tu atravessaste a américa; eu afundei propositalmente os barcos que me levariam a ti; tu me enviaste cartões-postais dos lugares onde esteve. se eu dissesse o contrário, estaria mentindo: nunca deixei de fantasiar aqueles dias. muitas vezes eu rebobino a fita, retorno àquelas tardes e tento entender o que se passou. eu tento reescrever o final do roteiro. a história inteira. eu tento matar personagens – especialmente os afetos mais próximos. fiquei sofrendo mágoas & ciúmes pequenas alegrias & grandes e intensas mortes roladas no chão, de arrasto, com toques de jazz e olhos de animé vermelhos, afogando-me nos lençóis da cama. por quê? oh, l' amour est un poison. poderia até ser uma cena melodramática – contudo, baby, para exorcizar a dor preciso do teatro íntimo, tudo para suportar o nem-te-ligo dos teus telefonemas. o que fiz eu para este toque de recolher? o que fiz para que recolhesse teus beijos de mim e deixasse no lugar apenas estes sonhos? hoje quero encontrar-te na rua e  –  bang, bang  – resolver tudo com um duelo sem armas. as palavras é que vão disparar com pólvora e manchar o ar de vermelho.


Nenhum comentário:

Pesquisar o malote