29.2.12

sonho do nilo

honey:

as cartas de amor vem aos milhares. mesmo aquelas que nunca quis estão sendo escritas. elas podem nunca chegar às caixas de correio, mas cá estão, em tinta, papel e parede. depois de escritas, fico deitando-as fora com a mesma vontade que gostaria de me deitar contigo. o desejo e a destruição são diretamente proporcionais. que ambíguo é o amor, não? dádiva e catástrofe a um só tempo, vivendo de um só fermento: o sonho do nilo. noite passada tive outro delírio onírico. pois é apenas isso que parece ser - o sonho como um deus da febre pousado em cima de mim, estrangulando com as garras meu pescoço. ou a esfinge dormindo secreta e sombria por trás dos meus olhos. você caminhava com passo ébrio, tropeçando, bem à minha frente. e, sabendo que não me escutava, ainda assim eu tentava contar minhas pequenas vitórias, dizer o quanto mudei. mesmo percebendo que eu era ignorado, mesmo vendo suas costas com o olhar de quem é deixado para trás. até nos sonhos tenho a esperança ingênua de que um dia você volte. mesmo nos sonhos é difícil ser convincente. mesmo a ficção é inverossímil. por isso, fecho minhas portas, lacro o envelope e atiro corpo e carta sobre o delta, deixando ambos flutuarem rumo ao estuário.

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