25.3.12

os nomes

baby:

durante a noite eu começo a recolha dos múltiplos nomes que dou a você. retiro-os da boca dos leões famintos, das franjas vermelhas das bocas-de-leão. da selvageria da savana eu os tiro. também dos tigres sangrentos, dos felinos sedentos, do puma sem nome no negro coração da áfrica.  da gazela dormindo sob a saliva dos reis, da lebre molhada ainda da água do riacho, eu bebo outro nome - perfumado e sonoro. como se todos os animais, predadores e presas, arranhassem o alfabeto inteiro em minha língua e desta nova memória, eu só tivesse os seus nomes. a penitência dos nomes-teus, murmurados em meus lábios como pedras de rosário, contas de cordões budistas, argila argêntea dos jarros samaritanos. os nomes-teus são imperiosos e gigantes como a onda de kanagawa desabando sobre um mar japonês, em conchas de canoas cansadas. completamente exausto, eu já perdi a conta de quantas vezes nomeei  você. de todas as fagulhas & farrapos fiz um nome, um sobrenome, um prenome composto ou pelo meio da casa. eu já não durmo mais - há tantos nomes a catalogar que caminho insone pelos corredores, pelo escritório, pelos papéis-carbono, pelas paredes. é um muro, eu sei, o que nos separa. e da grande história que inventei nos quatro cantos do quarto, da fantasia escancarada de nós dois na escada, só posso dizer que inventei você. e continuo, a despeito de tudo, imaginando que um dia haverá nosso encontro. então saberei seu nome, o nome-teu, o nome verdadeiro que te nomeia várias vezes de amor.

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