14.8.12

a linha internacional


honey:

eu estava pressentindo - é o corpo quem diz agora, não sou eu. então veio o décimo dia, o décimo dia. e tive que ver você partindo para longe, outra estrada, outra estada, um novo continente. eu senti quando atravessou a linha internacional da data. então é assim: apenas a cientificção poderia nos colocar de novo juntos. se pudesse. se pudesse fazer com que você me ligasse de onde está, nossas vozes estariam juntas, estaríamos viajando vocalmente por tempos diferentes, eu no passado, você no futuro, mas nós mesmos já não viveríamos no mesmo espaço. seria como convocar fantasmas, ter uma experiência espírita e naturalizada pela tecnologia. mas apenas se me ligasse. e se não fosse apenas para pedir para que eu guarde o que esqueceu na prateleira mais alta, para indagar sobre as últimas contas ou para saber da saúde do seu antigo animal de estimação. e se ligasse para conversar comigo e dizer que tudo foram fantasmas do inconsciente e que está voltando. e que tudo está voltando, que o tempo está encolhendo, que o caos einsteniano está acontecendo e estamos viajando um para o outro na luz? e se eu acordasse e dissesse como eu te sonho? e se eu sonhasse e te acordasse no teu sonho? você voltaria? não precisa dizer, lebre branca, conheço de cor suas últimas palavras, palavras de quem corre e vence na corrida seu pior predador, o tigre raiado, chorado de dor, este animal de selvageria mansa que sou eu (e um dia foi teu).

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