10.11.12

infatuation

dear,

estou andando com os pés nus em um tapete de folhas secas. o barulho distrai os pensamentos e, distraído deles, posso manter-me sóbrio. o efeito não durará muito. o tapete precisaria ser extenso, as pernas não deveriam se cansar, o barulho necessitaria de um quê de ininterrupto. ainda assim a duração desta distração ajuda um pouco. se eu parar agora, ficaria doente dos olhos -  as duas pupilas enormes, encharcadas, inchadas. por isso quero este som terapêutico de folhas amassadas. no silêncio, os pensamentos seriam ensurdecedores e ficariam me obrigando a colocar tudo em ordem, passando os dias por trás dos olhos como num desfile militar. eu não quero extrair verdades; nenhuma hipótese, nenhuma aritmética me serviria para coisa alguma. basta viver as coisas como elas são e estão. experimento meu corpo inteiramente magoado. saiba que é nessas horas que deus fecha os olhos, lá do alto deus fecha também o coração, enchendo ainda mais de orfandade e de solidão seu menino aqui embaixo. eu tinha conseguido dominar o monstro abissal, impedindo que ele despertasse & saísse das sombras & e viesse à tona; pensei que pudesse apresentá-lo quando por acaso nos encontramos no caminho de ciprestes. como eu fui tolo, como eu estou sendo. depois de ter reportado ao mundo aquela estranha glória, tão triste foi ter que empurrá-la novamente para o lugar de onde veio, inteiramente derrotada pela civilização. este é um segredo: às vezes o monstro tem nome de amor. e ninguém o quer. ainda que fosse belo, ainda que fosse bom. às vezes, raras as vezes, alguém o convida a entrar. então se vampiriza e ataca seus hóspedes. que posso eu fazer? ando por um tapete de folhas secas. it was just infatuation. i am so sorry. nada poderia ter sido pior, baby. então eu empurrei o monstro no abismo, espero que ele tenha quebrado as patas, tomara que tenha morrido.

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