21.11.12

o tudo que eu tanto sinto


dear,

tenho evitado sua insistente pergunta de como eu estou. seria possível descrever? esta é uma experiência sem palavras, emaranhada no corpo de tal forma que nem a garganta, nem a língua, nem a mão e as pontas dos dedos poderiam desenhá-la. há um quê de estrangulamento no corpo, as vísceras se contraem enquanto o espaço sideral se expande. então, por favor, não. cada vez que me questiona só consigo pensar que já está bem, que já passou, está em outra. afinal: it was just an infatuation. por que descrever algo que não pode entender se não o pôde sentir antes? talvez eu responda: 'estou bem'. mas seria apenas para distrair o tempo, dar tempo para que eu possa fugir e não dar maiores explicações. claro que queria que entendesse, no entanto, para que isto fosse possível eu precisaria desejar o mesmo: esta indiscrição do interior, este indescritível. assim você conheceria todos os acompanhamentos e não precisaria perguntar porque dos meus olhos comovidos, flutuando desolados em uma nuvem enfumaçada. só não quero desejar nada, nem isto, porque isto seria pedir que amasse outra pessoa e enfrentasse a descompensação súbita do desamor. se eu pudesse pedir, se eu tivesse direitos, seria apenas que olhasse pra mim, beijasse minhas vontades e me trouxesse a mesma paz dos primeiros dias. eu pediria que descobrisse o amor no jardim, não este inferno de apenas um expulso por deus. eu nem quero lembrar que desde o primeiro dia, tu sabes, eu te vi e te amei. não quero mais lembrar que desde a hora em que havia confessado me amar, o casco do meu corpo não desceu mais ao mar, mas singrou soberano na altura dos ventos, só para depois virar tempestade, trovão, destroços de um furacão que nem sabe o que faz. como tu não soubeste, mas fez eu acreditar. perguntar o que eu sinto não te tornas mais responsável por nada. só te tornas o nada. e o tudo que eu tanto sinto.

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