5.4.13

o diabo que o carregue

dear:

eu pedi a deus que levasse o cadáver. ele não fez. nessas horas eu não fico só puto com deus: eu bem fico é com dúvidas de que ele existe. por que não me arranja assim um pedido tão simples? deve ser sacanagem a existência dele, só pode. ou a vontade dele é transformar toda essa gentinha aqui em santos sofridos, canonizar os joelhos à força. eu tento não me importar, juro. mas não dá. eu até fico imaginando que, da próxima vez, eu só vou ver riscas de giz no chão, os vestígios do que logo vai desaparecer. eu imagino muito, eu sei. mas que fazer então? eu imaginei aquele corpo, estive naquele lugar inóspito pela duração de uma vida. tenho certeza de que você entende. é muito difícil se desapegar de alguma coisa experimentada com  zelo e um tanto grande de amor. da minha parte. sabe, eu acho que vou pedir ao diabo para levar o morto...


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