25.6.13

invernar

dear:

estou hibernando. entrei na caverna não sei há quanto tempo. parece muito tempo. não importa qual a duração dessa modorra da qual fiz uma morada sonolenta. nada importa senão esta inação, este adormecimento, este longo e rigoroso inverno sem mim. o torpor foi ganhando a carne, foi ganhando os ossos, foi ganhando o tempo. já tenho medo de sair e ver os pelos se perdendo da pele, as costelas se perdendo do peito, o coração se perdendo do leito. o prazo de validade expirou, quem sabe, e eu me perdi nas costas do inverno e nas contas de quantas encostas de neve cobriram a porta de entrada. daqui de dentro eu só via o mundo lá de fora ganhando as paredes com as sobras do que importava. daqui de dentro eu só via as obras das entranhas a envelhecer as horas da memória. das nossas histórias eu pegava gravetos e atirava nas chamas de uma fogueira que eu mesmo chamava esquecimento. só para depois ver o vento vadio vadeando pelas lascas e fazendo do recrudescendo da brasa fumaça e reconhecimento. eu bem queria dizer que passei todo esse tempo cuidando de mim (e que estou bem). mas o que eu fiz foi cuidar para que as sensações daquela estrada não voltassem pelo mesmo caminho do vento. forcei o pensamento a não dar mérito, a não dar autoridade às vozes da febre e das firmas que reconhecemos sob o sol da paisagem daquele momento. baby, eu estou aqui para não me ocupar de você, não me preocupar mais, não me desculpar ao menos, nem me culpar por sorver tanto de você. estou aqui porque quis. estou aqui porque não adiantou. e estou de saída porque não importam quantos dias mais, quantas paragens e quantas passagens, não importa: tudo acabou e o que eu sinto ainda é vivo, ainda revivo você ao meu lado, sempre, e de olhos bem acordados. e apenas saio na esperança de acordar às preces um coração desacordado. senta aqui um bocado, pega a minha mão, reza comigo um oitavo de pai-nosso, uma carícia convosco e um ave-beijo-me-daria por cada conta do rosário, por cada sangue de cristo derramado, por cada santo ungido no óleo abençoado, por cada vez que me ajoelhei no seu sudário e pedi que retornasse depois dos três, dos trinta, dos trezentos dias que subiu a rua e nunca mais voltou.

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