1.10.13

nada mais nada

honey,

as malas do tempo viajam no espaço; as estradas atravessam os relógios. é farta a duração da geografia nos meus olhos. ((fomos longe demais)). e sem perceber, perdemos a noção. judas perdeu as botas faz três quilômetros de dia. e apesar disto: prosseguimos as almas no deserto morno dos cegos. nem perguntamos se aquela rodovia voltaria: era um mar de asfalto, de arrasto, de deriva. o voo da areia fazia chorar nossos rostos. a dor do castigo nos fustigando, entretanto, era menor que a vontade de partir. foi você quem se atirou primeiro - suicida, sabotador. eu fiquei parado, vendo as janelas sangrentas do seu corpo, os buracos fumegantes do ódio. na paisagem estática, sentia a rodovia movendo-se embaixo dos meus pés. acenava para o medo, a poeira, a vida inteira que eu poderia ter desperdiçado se houvesse, ainda, insistido. as estradas me viajam de volta, só não desfazem as malas do tempo. extraviadas nas esteiras das passagens, na extradição das memórias.

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