vivemos uma época que não é heroica: não há lutas ou batalhas no campo dos afetos. está há muito dissipada a sensação de vitória. os que poderiam lutar, mataram-se. os corações apaixonados se lançaram do navio, pois não queriam chegar ao destino (se porto de chegada algum houvesse). este é o tempo dos pobres de espírito, os assassinos já vieram antes. nos dias de hoje, as pessoas não sabem mais o que querem (ou se querem alguma coisa). elas perderam a capacidade de separar o joio do trigo, o amor da paixão, o desejo do corpo do amor desejante. aqueles que ainda podem sentir são entronizados em uma monarquia depreciada: drama queen, drama king, drama princess. e é depreciativo ouvir o grito das massas: le roi est mort, vive le peuple! destituíram a permanência dos verbos, os encantos são apenas temporários na sucessão das coisas. aqueles que um dia se encontraram, tiveram que se shakespearezar, pois já não era mais possível viver em seu tempo, a despeito do amor. honey, eu nem preciso te lembrar, mas nós estamos mortos em uma época em que os heróis não vivem mais. e eu escrevo com os olhos na janela, contemplando sem qualquer satisfação uma paisagem lenta de zumbis e outros devoradores.
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