23.2.14

o amor buraco negro

dear,

eu me imaginava em viagem inesperada ao horizonte de eventos. bastava me aproximar inadvertidamente do teu corpo para que eu logo fosse tragado por uma força de repuxo e, sem qualquer impulso de resistir, eu deixasse até a luz da minha aura sua boca engolir. vivendo dentro de ti, eu estava estragado por dentro  — distinto das pequenas pevides à espera do presente próximo de ser planta; morava eu, lá dentro de ti, como um monturo escuro dos monstros de breu. eu esperava teu coração sorver minha alma com calma, calor e sálvia, estrela branca, asteroide e alecrim. e quando me dava por mim, não era mais nada, nem eu, nem meu, nem teu. o infinito é nada-se-sabe, ninguém, deus morto, diabo torto. e absorto no teu negrume de porão, via passar cardumes de estrelas cadentes, pequenos e pobres príncipes, lá longe do horizonte do teu portão.

então me disseram: os meus ossos, expostos, teriam queimado no firewall dos teus olhos. e se não bastasse que me incendiasse, cogitaram mais: é possível que tu não existas e, assim, não existindo, seria apenas alucinação a palpitação do meu capricho no sorvo teu por trás dos olhos meus.

então se desdisseram: no wall on the firewall, sem eventos na dimensão do espaço-tempo. tudo é aparência, parecença. e sob esse disfarce, você me engolia belo e me devolvia traste, distorcido, deformado, inconformado.

então eu suspirei, fechei os olhos, e baixinho orei:
ah, buraco negro, abençoado seja o teu piche, pois bitter-sweet é o degredo do coração na cavidade cruel do teu abismo.

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