30.10.14

cross-country

dear,

eu me perdi. como os lobos que se perderam floresta adentro, pelo caminho mais longo e sem volta. como os caçadores que se perderam na pressa de uma presa ainda faminta e não inteiramente morta, eu me perdi. eu tenho me perdido e me perco. eu quase me arrependo dessa perdição. quero entender: isto era para ser um convite, era para entrar ou para partir? explique-me de forma didática, estou malhado pelo cansaço, envelheci. não é falta de amor, não. eu sinto que eu me perdi no tempo. ou. ou eu estou perdendo meu tempo? por um momento eu penso que é provável que eu esteja latindo para árvore errada, inteiramente alheio de que a árvore nasceu para pedra e não para planta. mas também é bastante provável que eu apenas não consiga mais discernir o que é planta do que é pedra, tudo porque ambos se comportam da mesma forma. efêmera. a efêmera forma que me toca e em seguida bate em retirada, esconde-se profunda e esquiva na toca. mal consigo divisar a silhueta, a sombra, a alma. estou ruminando essa indiferença, estou me arruinando na crença de que é só bravata, tortura, a ríspida secura de um jogo de sedução. mas eu não quero jogar, declaro desde já. eu quero é perder, me perder. eu quero deixar. eu quero me deixar levar por aquilo que é dado sentir. eu sofro a gastronomia espiritual de um coração amanteigado. por isso: eu quero seguir errante pelas palavras da estrada, eu quero ocupar o espaço da calçada, eu quero a viagem cross-country pelo avesso do dorso e pelas costas, seguir contigo até uma carcaça esfolada de corações que já se ajoelharam. eu não quero mais nada, exceto que sinalize o caminho, que me diga se é por aqui mesmo ou se dou meia volta. volver.

(eu te espero porque eu te quero).

.: marcio markendorf




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