2.3.15

piano-marfim

baby,

o som triste de um piano de armário. sem cauda, piano azul. escondido e quieto como um veio, uma mina, uma pedra. meu corpo caindo lá fora, de cima dos prédios, em slow motion. ouve, meu bem: este é o jazz dos armários de canto. este é o som dos ossos se quebrando, esmagando o pequeno coração coxo. este é o giz no contorno dos outros na calçada. todos esquerdos, esquivos. por isso há um acorde mal nas entranhas da garganta. ele sobe incendiário desde a boca do estômago até a boca do rosto. o gosto é de marfim, também de áspero elefante morto. é o preço da tristeza, da matança pela presa, da liberdade que você me dá. da displicência tua que nunca quis. quisera eu o som em riste, o piano sem dó, o corpo sem pó, você sempre em mim.

.: marcio markendorf


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